Situação geográfica

Tell el-Far’a é um sítio arqueológico localizado a 11 km a nordeste da cidade de Nablus, na Cisjordânia, nas montanhas de Samaria, embora em termos administrativos pertença, hoje em dia, à província de Tubas. Trata-se de um tell de importantes dimensões, situado num planalto rochoso de 198 metros de altitude, que, no lado meridional, termina de forma abrupta. Mede aproximadamente 600 metros de comprimento e 300 metros de largura, ou seja, 18 hectares. A localização do arqueossítio neste lugar obedece a três motivos básicos: uma fácil defesa natural (excepto na parte oeste); um bom aprovisionamento de água, devido a duas fontes naturais próximas (‘Ain ad-Dlaid e ‘Ain al-Far’a); e o controlo da via de comunicação que ligava o vale do rio Jordão (situado a 20 km a oeste) com a região da antiga cidade de Siquém (actualmente Tell Balata, em Nablus).

Trabalhos precedentes

Em 1946, o sítio de Tell el-Far’a foi escolhido por Roland de Vaux, director da École Biblique et Archéologique Française (EBAF) de Jerusalém, para iniciar um grande projecto de escavação com a permissão do Departamento de Antiguidades da Jordânia. Entre 1 de Junho de 1946 e 22 de Outubro de 1960, foram levadas a cabo um total de nove campanhas de escavação, que De Vaux conciliou, entre 1949 e 1958, com os seus trabalhos em Qumran, junto ao Mar Morto. Nos anos 70, a EBAF tentou, sem êxito, voltar a pôr em marcha o projecto. Os trabalhos de De Vaux permitiram estabelecer uma sequência de ocupação formada por sete grandes períodos (circa 8500-600 a.C.), a saber:

Actualmente, os materiais arqueológicos exumados pela equipa francesa estão conservados em várias instituições: EBAF, Rockefeller Museum (Jerusalém), Musée du Louvre e Jordan Museum (Amman).

Em 1931, William F. Albright foi o primeiro investigador a propor a identificação de Tell el-Far’a com a antiga cidade de Tirsa, citada dezassete vezes no Antigo Testamento. Tirsa foi a capital do chamado reino do Norte, em finais do século IX a.C., e, como tal, a residência oficial do rei Jeroboão I, até Omri mudar a corte para Samaria, por volta de 880 a.C. Não obstante, a hipótese Far’a = Tirsa, comummente aceite, carece de uma confirmação definitiva.

Selecção bibliográfica sobre os trabalhos anteriores

Albright, W.F. (1931): “The site of Tirzah and the Topography of Western Manasseh”, Journal of the Palestine Oriental Society 11, 241-251. 

Amiet, P. et al. (1996): Tell el Far’ah. Histoire, glyptique et céramologie, Fribourg.

Chambon, A. (1984) : Tell el-Far’ah I. L’Âge du Fer, Paris. 

De Vaux, R. (1951a) : « La troisième campagne de fouilles à Tell el-Far’ah, près Naplouse.», Revue Biblique 58, 393-430. 

De Vaux, R. (1951b) : « La troisième campagne de fouilles à Tell el-Far’ah, près Naplouse. Rapport préliminaire (suite)», Revue Biblique 58, 566-590. 

De Vaux, R. (1952) : « La quatrième campagne de fouilles à Tell el-Far’ah, près Naplouse. Rapport préliminaire», Revue Biblique 59, 551-583. 

De Vaux, R. (1955) : « Les fouilles de Tell el-Far’ah, près Naplouse. Cinquième campagne. Rapport préliminaire », Revue Biblique 62, 541-589. 

De Vaux, R. (1956) : “The excavations at Tell el-Far’ah and the site of ancient Tirzah”, Palestine Exploration Quarterly 88, 125-140. 

De Vaux, R. (1957) : « Les fouilles de Tell el-Far’ah, près Naplouse. Sixième campagne. Rapport préliminaire », Revue Biblique 64, 552-580. 

De Vaux, R. (1961) : « Les fouilles de Tell el-Far’ah. Rapport préliminaire sur les 7e, 8e, 9e campagnes, 1958-1960 », Revue Biblique 68, 557-592. 

De Vaux, R. (1962) : « Les fouilles de Tell el-Far’ah. Rapport préliminaire sur les 7e, 8e, 9e campagnes, 1958-1960 (suite) », Revue Biblique 69, 212-253. 

De Vaux, R. (1967): “Tirzah”, in D.W. Thomas ed., Archaeology and Old Testament Study, Oxford, 371-383. 

De Vaux, R. (1976): “El-Far’a, tell, North”, in Avi-Yonah, M. ed., Encyclopedia of Archaeological Excavations in the Holy Land, vol. 2, Jerusalem, 395-404.

De Vaux, R. et al. (1993) : «Far’ah, Tell el- (North) », in Stern, E. ed., The new encyclopedia of archaeological excavations in the Holy Land, vol.2, Jerusalem, 433-440. 

De Vaux, R. ; Steve, A.M. (1947a) : « La première campagne de fouilles à Tell el-Far’ah, près Naplouse. Rapport préliminaire », Revue Biblique 54, 394-433. 

De Vaux, R. ; Steve, A.M. (1947b) : « La première campagne de fouilles à Tell el-Far’ah, près Naplouse. Rapport préliminaire (suite) », Revue Biblique 54, 573-589. 

De Vaux, R. ; Steve, A.M. (1948) : « La seconde campagne de fouilles à Tell el-Far’ah, près Naplouse. Rapport préliminaire », Revue Biblique 55, 544-580. 

De Vaux, R. ; Steve, A.M. (1949) : « La deuxième campagne de fouilles à Tell el-Far’ah, près Naplouse. Rapport préliminaire (suite) », Revue Biblique 56, 102-138. 

Mallet, J. (1973) : Tell el-Far’ah (Jordanie). L’installation du Moyen Bronze antérieure au rempart, Paris. 

Mallet, J. (1987) : Tell el-Fâr’ah II. Le Bronze Moyen, 2 vols., Paris.

Novo Projecto

Em Outubro de 2016, procedeu-se à assinatura de um convénio de colaboração entre a Universidade da Corunha, a Universidade Nova de Lisboa e o Ministério do Turismo e Antiguidades da Palestina, para iniciar uma nova etapa de investigação em Tell el-Far’a. A primeira campanha de campo teve lugar no mês de Outubro de 2017.

Tell el-Far’a é um arqueossítio de referência na historiografia sobre arqueologia da Palestina. Trata-se, em todos os sentidos, de um enclave que merece novas investigações, a julgar pelo seu potencial histórico para a compreensão da Idade do Bronze e do Ferro nesta região do Mediterrâneo Oriental. A combinação de sondagens estratigráficas (desde a superfície até à base do tell) com a escavação em extensão permitirá chegar a novos dados de indiscutível importância para conhecer a evolução do povoamento na Palestina entre o nascimento das primeiras cidades (c. 3000 a.C.) e a chegada do Império Assírio à região da Samaria (c. 720 a.C.). O novo projecto arqueológico tem como objectivo principal estudar as seguintes linhas de investigação prioritárias:

- Arquitectura e urbanismo: aldeia e cidade;

- Cultura material: cerâmica, metalurgia, glíptica, etc.;

- Sequência cronológica: arqueologia, história e datação absoluta;

- Economia: rotas e contactos comerciais;

- Fauna e flora: paleo-clima, paleo-dieta e recursos naturais;

- Conservação, restauração, valorização e musealização do sítio arqueológico.

Direcção

O novo projecto de Tell el-Far’a é uma iniciativa de cooperação científica coordenada por:

Juan Luis Montero Fenollós, professor da Facultade de Humanidades e Documentación, Universidade da Coruña;

Francisco Caramelo, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa;

Jehad Yasin, director-geral do Departamento de Antiguidades e Património Cultural da Palestina.

Patrocinadores

Ministerio de Turismo y Antigüedades de Palestina

Fundación Palarq

CHAM-Centro de Humanidades

CULXEO-Instituto Universitario de Xeoloxía 

Instituto Español Bíblico y Arqueológico

Ministerio de Cultura y Deporte, España

AECID, España